O Facebook foi atingido recentemente por um grande escândalo. De acordo com reportagens,
dados sobre as “curtidas” de 50 milhões de usuários foram coletados
pela Cambridge Analytica e usados para campanhas políticas direcionadas.
O comportamento da empresa colocou lenha na fogueira da indignação
pública.
Como resultado, o capital da empresa caiu dezenas de bilhões de dólares (está U$35 bilhões abaixo esta semana), e uma série de ativistas do Twitter lançaram a campanha #DeleteFacebook. Na nossa opinião, primeiramente, destacamos que a ação chega um pouco atrasada – o mal já está feito – e segundo, o incidente ressalta mais uma vez a dependência e vulnerabilidade das pessoas às tecnologias.
Como parte da pesquisa, foi solicitado que os participantes criassem um retrato de personalidade baseado no modelo OCEAN (Openness, Conscientiousness, Extravertism, Agreeableness, Neuroticism), envolvendo o download do aplicativo MyPersonality para o Facebook, que analisava suas curtidas. Aproximadamente 86 mil pessoas responderam e a principal conclusão dos autores foi que a rede sabe muito mais sobre as pessoas do que elas mesmas. Com certeza, Sherlock.
Os resultados chamaram a atenção de outro professor da Universidade de Cambridge, Alexander Kogan. Dizem que pediu para ver os dados iniciais, mas teve o pedido negado. Não se sabe o porquê – ética profissional, possíveis problemas legais com o Facebook (ainda que oficialmente nenhuma regra teria sido quebrada naquele momento) ou rivalidade acadêmica. Seja qual for o caso, logo em seguida, Kogan decidiu conduzir seu próprio estudo.
Enquanto isso, o Facebook apertou suas configurações de privacidade, tornando as curtidas inacessíveis para aplicativos de terceiros, por padrão. Mas então o crowdsourcing o salvou – na forma do Amazon Mechanical Turk, onde o app Thisisyourdigitallife foi hospedado. Os usuários foram informados que o aplicativo havia sido criado para a condução de um estudo psicológico e Kogan foi nomeado como pesquisador responsável.
O objetivo da pesquisa era: estudar as curtidas de tantos usuários do Facebook quanto possível e construir perfis sociopsicológicos baseados nessa informação. Os participantes, cerca de 270 mil, ganharam um dólar cada.
Não havia nada de criminoso no estudo em si – exceto talvez a etiqueta de preço (U$ 270 mil é uma despesa considerável para um estudo psicológico e é difícil acreditar que o professor de Cambridge tenha pago sozinho).
Esses dados são uma mina de ouro para os cientistas de mercado – e não só para aqueles que trabalham para empresas comerciais, mas também dos partidos políticos. A ideia de que figuras políticas são comercializáveis como bens de consumo para as massas (com base nas preferências de um público-alvo) existe desde que Stanley Milgram começou a conduzir seus famosos experimentos sociopsicológicos.
Milgram é lembrado hoje por, dentre outras coisas, suas revelações sobre a interconectividade dos norte-americanos. Afinal, seus estudos possibilitaram o entendimento que o desenvolvimento da tecnologia nos aproximaria mais do que nunca. Mas nem mesmo ele poderia imaginar que, obtendo dados de centenas de milhares de pessoas, patrocinadores de pesquisa seriam capazes de multiplicar ainda mais (de acordo com as últimas acusações contra a Cambrigde Analytica), se comparados a quantidade original de entrevistados.
Isso porque ao compartilhar informações sobre suas curtidas, os participantes da pesquisa entregaram simultaneamente as curtidas dos seus amigos do Facebook, aumentando esse número para mais de 50 milhões.
Os detalhes variam de acordo com a fonte: alguns dizem que Kogan era um cofundador da SCL, outros que foi apenas um operador de pesquisa contratado pela corporação. Empresas comerciais terceirizam pesquisas sociológicas e psicológicas para universidades – é uma prática comum. No entanto, nesses casos, as instituições de ensino (quase) nunca entregam os dados pessoais dos participantes para os patrocinadores do estudo – apenas estatísticas numéricas.
De acordo com a versão do Facebook sobre os acontecimentos, assim que a empresa soube, em 2015, que a SCL/Cambridge Analytica estava na posse de dados de usuários, o gigante das mídias sociais imediatamente exigiu que fossem deletados. Mas a resposta recebebida não conseguiu convencer os descrentes; daí a campanha bola de neve #DeleteFacebook.
A história tem muitos lados, é preciso dizer. Para começar, tem um cheiro forte de rivalidade acadêmica – o desejo dos pesquisadores de se superarem em termos de tamanho de amostra. Então, há a probabilidade de que o termo de consentimento do usuário com os participantes tenha sido violado – eles provavelmente (e seus amigos do Facebook com certeza) não foram informados que seus dados seriam entregues a terceiros. Por último, estão as ações duvidosas do próprio Facebook.
Contudo, o gênio das mídias sociais está fora da lâmpada e não há como colocá-lo de volta. Pedir que as pessoas se deletem das mídias sociais é tão atrasado quanto anunciar o término de um contrato com uma empresa de análise dois anos inteiros depois que tudo que poderia ter acontecido, já aconteceu.
De acordo com nossos dados, 78% dos usuários gostariam muito de se livrar do hábito das mídias sociais, mas sentem que não conseguem. Para 62%, é uma ferramenta muito conveniente para manter contato com amigos e família. E mais, muitos não fazem ideia de quanta informação (vídeos, fotos, mensagens) publicaram por aí nas mídias sociais, incluindo, é claro, no Facebook. Mas você pode descobrir e tomar uma decisão consciente. Após essa análise, estará um passo mais perto da segurança online!
Como resultado, o capital da empresa caiu dezenas de bilhões de dólares (está U$35 bilhões abaixo esta semana), e uma série de ativistas do Twitter lançaram a campanha #DeleteFacebook. Na nossa opinião, primeiramente, destacamos que a ação chega um pouco atrasada – o mal já está feito – e segundo, o incidente ressalta mais uma vez a dependência e vulnerabilidade das pessoas às tecnologias.
Apenas mais um na multidão
Vamos tratar da cronologia primeiro. Começou em 2014 com um estudo feito por Wu Youyou e Michal Kosinski, das universidades de Cambridge e Stanford, respectivamente, junto com um coautor da Universidade de Stanford.Como parte da pesquisa, foi solicitado que os participantes criassem um retrato de personalidade baseado no modelo OCEAN (Openness, Conscientiousness, Extravertism, Agreeableness, Neuroticism), envolvendo o download do aplicativo MyPersonality para o Facebook, que analisava suas curtidas. Aproximadamente 86 mil pessoas responderam e a principal conclusão dos autores foi que a rede sabe muito mais sobre as pessoas do que elas mesmas. Com certeza, Sherlock.
Os resultados chamaram a atenção de outro professor da Universidade de Cambridge, Alexander Kogan. Dizem que pediu para ver os dados iniciais, mas teve o pedido negado. Não se sabe o porquê – ética profissional, possíveis problemas legais com o Facebook (ainda que oficialmente nenhuma regra teria sido quebrada naquele momento) ou rivalidade acadêmica. Seja qual for o caso, logo em seguida, Kogan decidiu conduzir seu próprio estudo.
Enquanto isso, o Facebook apertou suas configurações de privacidade, tornando as curtidas inacessíveis para aplicativos de terceiros, por padrão. Mas então o crowdsourcing o salvou – na forma do Amazon Mechanical Turk, onde o app Thisisyourdigitallife foi hospedado. Os usuários foram informados que o aplicativo havia sido criado para a condução de um estudo psicológico e Kogan foi nomeado como pesquisador responsável.
O objetivo da pesquisa era: estudar as curtidas de tantos usuários do Facebook quanto possível e construir perfis sociopsicológicos baseados nessa informação. Os participantes, cerca de 270 mil, ganharam um dólar cada.
Não havia nada de criminoso no estudo em si – exceto talvez a etiqueta de preço (U$ 270 mil é uma despesa considerável para um estudo psicológico e é difícil acreditar que o professor de Cambridge tenha pago sozinho).
Esses dados são uma mina de ouro para os cientistas de mercado – e não só para aqueles que trabalham para empresas comerciais, mas também dos partidos políticos. A ideia de que figuras políticas são comercializáveis como bens de consumo para as massas (com base nas preferências de um público-alvo) existe desde que Stanley Milgram começou a conduzir seus famosos experimentos sociopsicológicos.
Milgram é lembrado hoje por, dentre outras coisas, suas revelações sobre a interconectividade dos norte-americanos. Afinal, seus estudos possibilitaram o entendimento que o desenvolvimento da tecnologia nos aproximaria mais do que nunca. Mas nem mesmo ele poderia imaginar que, obtendo dados de centenas de milhares de pessoas, patrocinadores de pesquisa seriam capazes de multiplicar ainda mais (de acordo com as últimas acusações contra a Cambrigde Analytica), se comparados a quantidade original de entrevistados.
Isso porque ao compartilhar informações sobre suas curtidas, os participantes da pesquisa entregaram simultaneamente as curtidas dos seus amigos do Facebook, aumentando esse número para mais de 50 milhões.
Como a Cambridge Analytica conseguiu 50 milhões de perfis?
Como as cobaias de Kogan se tornaram propriedade de uma empresa em Cambridge é outra história nebulosa. A Cambridge Analytica é subsidiária de uma empresa de comunicações, a SCL (Strategic Communications Laboratories), especializada em processamento de dados.Os detalhes variam de acordo com a fonte: alguns dizem que Kogan era um cofundador da SCL, outros que foi apenas um operador de pesquisa contratado pela corporação. Empresas comerciais terceirizam pesquisas sociológicas e psicológicas para universidades – é uma prática comum. No entanto, nesses casos, as instituições de ensino (quase) nunca entregam os dados pessoais dos participantes para os patrocinadores do estudo – apenas estatísticas numéricas.
De acordo com a versão do Facebook sobre os acontecimentos, assim que a empresa soube, em 2015, que a SCL/Cambridge Analytica estava na posse de dados de usuários, o gigante das mídias sociais imediatamente exigiu que fossem deletados. Mas a resposta recebebida não conseguiu convencer os descrentes; daí a campanha bola de neve #DeleteFacebook.
A história tem muitos lados, é preciso dizer. Para começar, tem um cheiro forte de rivalidade acadêmica – o desejo dos pesquisadores de se superarem em termos de tamanho de amostra. Então, há a probabilidade de que o termo de consentimento do usuário com os participantes tenha sido violado – eles provavelmente (e seus amigos do Facebook com certeza) não foram informados que seus dados seriam entregues a terceiros. Por último, estão as ações duvidosas do próprio Facebook.
O que os usuários do Facebook têm a ver com tudo isso?
Para nós, usuários, é mais um alerta. Quantos outros incidentes serão necessários para que as pessoas finalmente despertem e entendam que a sua presença nas redes sociais afetam não somente elas, como também aqueles com quem elas interagem? Quando aplicativos como o GetContact, MyPersonality e Thisisyourdigitallife estiverem fazendo a ronda, pense duas vezes antes de clicar.Contudo, o gênio das mídias sociais está fora da lâmpada e não há como colocá-lo de volta. Pedir que as pessoas se deletem das mídias sociais é tão atrasado quanto anunciar o término de um contrato com uma empresa de análise dois anos inteiros depois que tudo que poderia ter acontecido, já aconteceu.
De acordo com nossos dados, 78% dos usuários gostariam muito de se livrar do hábito das mídias sociais, mas sentem que não conseguem. Para 62%, é uma ferramenta muito conveniente para manter contato com amigos e família. E mais, muitos não fazem ideia de quanta informação (vídeos, fotos, mensagens) publicaram por aí nas mídias sociais, incluindo, é claro, no Facebook. Mas você pode descobrir e tomar uma decisão consciente. Após essa análise, estará um passo mais perto da segurança online!
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